A avalanche de discursos sobre liderança humanizada, propósito e saúde mental fez com que muitos executivos adotassem a retórica — mas poucos, de fato, sustentam uma liderança com profundidade.
A liderança humanizada virou tendência nos discursos organizacionais. Termos como empatia, escuta ativa e propósito se multiplicaram em palestras, programas e redes sociais. Mas, na prática, o que sustenta uma liderança com profundidade vai além do vocabulário — envolve coerência, maturidade emocional e um repertório que não se aprende em fórmulas prontas.
“Ter discurso não é ter lastro. Muitos líderes hoje falam sobre empatia, mas não conseguem sustentar uma conversa difícil sem defensividade. Outros se dizem abertos, mas geram medo em suas equipes”, afirma Renata Livramento, psicóloga, doutora em administração e especialista em desenvolvimento de alta liderança.
Com 30 anos de atuação em organizações e na educação executiva — é professora da Fundação Dom Cabral e da Skema Business School —, Renata atua com executivos C-levels, conselhos e comitês de gente e cultura. Seu trabalho combina ciência, experiência prática e sensibilidade clínica para desenvolver o que ela chama de liderança com lastro. Ela explica que “lastro é o que sustenta. É a capacidade de se manter firme em meio à complexidade, sem recorrer à rigidez ou ao controle. Um líder com lastro não precisa se esconder atrás do cargo: ele tem visão, clareza e humanidade”.
Segundo Renata, a grande diferença está na capacidade de suportar emoções difíceis — tanto as próprias quanto as do time — e de tomar decisões impopulares sem perder o senso ético e humano. Para ela, “não se trata de ser bonzinho. Trata-se de ser inteiro. Inspirar não é agradar. É ter clareza de valores, saber se comunicar com verdade e manter uma presença que gera segurança, mesmo diante de conflitos”.
O desafio da liderança contemporânea, segundo ela, é unir densidade e leveza, técnica e sensibilidade, estratégia e humanidade. “O líder de 2025 precisa ter uma escuta qualificada, mas também coragem para agir. Precisa saber lidar com ambiguidade sem paralisar e com sofrimento sem adoecer. Isso exige desenvolvimento contínuo — não só técnico, mas emocional e relacional”, reforça.
Renata também alerta para o risco de líderes se apropriarem da linguagem do cuidado apenas como ferramenta de marketing interno. “Falar de saúde mental, diversidade ou cultura é fácil. Difícil é abrir espaço para escutar de verdade o que a equipe está vivendo. Difícil é lidar com falhas sem punir, ou dar feedbacks que mobilizem sem gerar medo”, observa. Para ela, empresas que realmente valorizam a liderança com lastro precisam investir não apenas em treinamentos, mas em processos de desenvolvimento profundo, com espaço para escuta, reflexão e construção de novas práticas. “Liderança não é um cargo, é uma escolha diária. E exige coragem para se rever o tempo todo”, conclui.
Sobre Renata Livramento
Psicóloga, doutora em administração e especialista em gestão de saúde corporativa, Renata Livramento atua há 30 anos promovendo saúde e bem-estar nas organizações. É CEO do Instituto Brasileiro de Psicologia Positiva e professora convidada da Fundação Dom Cabral e da Skemá Business School. Trabalha com desenvolvimento de executivos sêniores, conselhos, comitês de cultura e programas de saúde emocional corporativa. Fonte: Renata Livramento — Psicóloga, doutora em administração e especialista em gestão de saúde corporativa, CEO do Instituto Brasileiro de Psicologia Positiva.